22 de setembro de 2010

A história que começa pelo fim


"Amnésia não é um filme comum: é no roteiro que está sua originalidade. Obedecendo à percepção temporal do protagonista esquecido, a narrativa fílmica desconstrói o sentido natural do tempo e se apresenta de trás para frente. Quer dizer, em vez de as tomadas seguirem o encadeamento cronológico padrão vindo do passado para o presente — diretamente, ou mesmo em flashsback que geralmente retornam aos fatos anteriores para reconstituírem linear e cumulativamente a sucessão de eventos —, Amnésia conta seu enredo na ordem temporal inversa. A história começa pelo fim. Em sua primeira cena, a revelação de um negativo Polaroid, a imagem fotografada de um cadáver empalidece lentamente. No avesso do sentido usual, a foto não se torna nítida e aos poucos vai sumindo até desaparecer. Apesar de fugaz, a cena insinua toda a estrutura do roteiro. Desde o início sabe-se que o protagonista matou um homem, mas tal como desmemoriados, desconhecemos os fatos prévios que conduziram àquela situação."


"Contra toda obviedade, Amnésia desmonta os elos do raciocínio linear e impede que se estabeleçam vínculos fáceis entre a contigüidade temporal e a explicação causal. Na marcha ré do tempo, o filme é uma dramática perseguição às causas das ações do seu protagonista. No limite, trata-se de uma tentativa desesperada para oferecer sentido às ações de um homem que mesmo sem conseguir entender o significado dos seus próprios atos, quer obstinadamente alcançar uma meta futura. Entre a memória de um passado perdido e a perseguição de um destino que, sendo realizado ou não, será inexoravelmente esquecido, o protagonista está preso em um tempo eternamente atual."


"Sua consciência não registra a experiência da mobilidade temporal e, portanto, o presente se lhe parece inalterado. Não que tivesse desaprendido o significado das palavras antes/passado, durante/presente, depois/futuro. Leonard não perdeu o entendimento ou a razão; e algumas de suas faculdades intelectuais permaneciam intactas. O que ele não possuía mais era a capacidade de reunir os fragmentos das suas ações emprestando-lhes algum sentido. Sabia quem era e aonde queria chegar, mas não entendia se o que acabara de fazer era compatível com sua identidade e intenção. Refém do esquecimento, Leonard perdeu a natural habilidade de compreender e explicar o fluxo do tempo."


Sessão:

Sexta, 24 de setembro - 20h - Grátis
Espaço Edith Cultura - Cineclube de Bragança
R. Cel Leme, 176 - Centro
Bragança Paulista - SP


Trechos do texto da historiadora Norma Cortês
Fonte:  http://www.espacoacademico.com.br/022/22ccortes.htm

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